terça-feira, 14 de junho de 2016

Por terras de França I

Alemanha – Primeiras Impressões

No jogo frente à Ucrânia, os alemães mantiveram a identidade que os caracteriza nos últimos anos. Domínio do jogo através da posse de bola, preferencialmente no meio-campo adversário envolvendo muita gente no ataque.
Na primeira parte a Ucrânia apareceu recuada com médios e defesas a fazerem duas linhas de 4 juntas, mas baixas começando a pressionar já bem dentro do seu meio-campo. A Alemanha respondeu com o adiantamento dos laterais, que davam largura quando equipa tinha bola, preferencialmente Kroos na meia-esquerda e Khedira na meia-direita a dirigirem jogo de frente para o bloco ucraniano com o auxílio dos centrais (especialmente Boateng). Os alas Draxler e Muller procuravam frequentemente espaços interiores, juntando-se a Ozil Goetze no meio, fazendo com que o espaço entre as duas linhas ucranianas estivesse preenchido com no mínimo sempre alemães que garantiam que a posse de bola da equipa progredisse.
A Alemanha na primeira parte, regra gera, foi bastante criteriosa quando teve bola, preferencialmente através de passe curto, alternando com bolas longas a procurar as costas da defesa. Os movimentos dos avançados fizeram com que a restante equipa ganhasse espaço para jogar, ao fazer recuar a linha defensiva ucraniana. À mobilidade dos 4 da frente, os jogadores de trás foram pacientes realizando o passe vertical que permitiu avançar no momento certo, (destaque para Kroos) ainda que Boateng tivesse revelado algum desacerto inicial na procura do extremo/lateral do lado oposto ao seu. À direita do ataque alemão o extremo esquerdo ucraniano Konoplyanka fechava o seu corredor baixando para junto da linha defensiva, ao passo que Yarmolenko do outro lado se juntava aos médios estando mais adiantado. O recuo de Konoplyanka para junto dos defesas permitiu à Alemanha mais espaço para jogar, ainda para mais sendo esse o espaço de Khedira que se adiantava mais que Kroos. Em alguns momentos existiu aglomeração nessa zona (pois Ozil e/ou Goetze juntavam-se a Muller e ao lateral Howedes) com a Ucrânia a fechar bem e os alemães procuraram variar o jogo através de passe longo para o lado contrário para Hector ou Draxler que conferiam largura (com Yarmolenko muito por dentro) havia espaço para jogar.
Pese embora o mérito na forma como entraram  frequentemente no bloco ucraniano, a Alemanha revelou dificuldades em ultrapassar a linha defensiva adversária que se apresentou muito coordenada, raramente permitindo que a bola entrasse suas costas, obrigando os alemães a procurar o jogo exterior através de cruzamentos no último terço ainda que com boa presença em zona de finalização.
Na segunda parte, a Ucrânia entrou com os médios a pressionarem mais à frente. Como a linha defensiva se manteve conservadora a Alemanha jogou entre linhas com maior facilidade, ainda que os problemas no último terço se tenham mantido, mesmo em situação de contra-ataque, mais frequente dada a desvantagem ucraniana no marcado.
Defensivamente, e ainda que seja preciso uma melhor análise, deu para ver que nem sempre a equipa reage colectivamente à pressão exercida por um colega, o que permite ao adversário jogar, bem como o tempo exagerado que por vezes os médios demoram a juntar à linha defensiva.

Destaque individual – Dimitri Payet

Primeira grande figura do Euro-2016 e destaque inteiramente merecido não só pelo golo que valeu a vitória mas pela fantástica exibição. Não desiludiu e não só pela indiscutível qualidade técnica e de passe. Na primeira parte começou na ala esquerda mas cedo procurou espaço interior e até foi para fora do bloco adversário para definir jogo. Sempre criterioso com a bola nos pés, a procurar envolvimento e tabelas com os colegas, muito bem a definir o timming para soltar a bola. Marcou o ritmo de jogo da França, sabendo quando temporizar o ataque por forma a ter mais e melhor apoio ou progredindo através da condução. Boa inserção no espaço entre linhas como é prova o lance do segundo golo. Quando após as substituições passou a jogar definitivamente no meio foi evidente que sabia quando devia afastar ou aproximar do portador de bola para lhe dar o melhor apoio

(Texto originalmente publicado no Jornal Único)

Sem comentários:

Enviar um comentário